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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Que Horas Ela Volta? E a Herança Escravista no Brasil



Para você que pensa que cinema brasileiro não tem nada que preste ou que só produz comédias genéricas cheias de clichês, fica ai um tapa na cara de muita gente que pensa assim.
E por falar em tapa na cara é isso que o filme faz com você o tempo todo, incomodando e desconstruindo alguns conceitos que estão enraizadas em cada um de nós, e é disso que o filme vai tratar de como a "herança" da escravidão está dentro de cada um de nós, até em você que diz que isso não existe.
O filme vai contar então a história de Val vivida aqui pela excelente atriz Regina Casé. Val há mais de 15 anos trabalha como empregada na casa de uma família de classe média em São Paulo, até ai tudo bem os patrões a tratam teoricamente muito bem. Eles pedem um sorvete e ela tá lá pra entregar. Pedem água e ela vai pegar e claro que vai estar sendo paga pra isso.




O problema começa quando Jéssica, a filha de Val que não a ver há 15 anos, vem pra São Paulo prestar vestibular e começa a quebrar alguns conceitos do que seria certo ou errado simplesmente pela fato dela ser ela, isso mesmo pelo simples fato de subverter alguns paradigmas que muitos temos da relação entre patrões e empregados e é esse um dos pontos que o filme vai tocar, a luta de classes indo além disso.
E a pergunta que não quer calar é: Como a filha da empregada pode gerar tão grande transtorno? Primeiro ponto a filha da empregada não é ignorante e apesar de ter estudado em escolas precárias se mostra bem inteligente o que em um primeiro momento causa estranheza. O segundo ponto, ela não age como se fosse inferior a ninguém. E porque então não poderia ficar no quarto de hospedes vazio e sem uso há muito tempo, afinal o que tem de errado nisso? E afinal de contas porque raios a filha da empregada não pode tomar banho na piscina do patrão? E por quê afinal contas a filha da empregada não pode prestar vestibular em uma grande faculdade, em um curso bem concorrido?

""Você é quase da família! Mas não esquece de fazer o bolo, viu?""

O interessante na construção do roteiro do filme, que vem sendo escrito há dez anos é que ele te faz julgar Jéssica e mostra assim a nossa ignorância e os nossos preconceitos, simplesmente porque esses conceitos estão impregnados em todos nós, sejam patrões ou empregados, eu nunca tive nenhum tipo de empregada (o) ou babá, mas eu também julguei Jéssica, no principio achei ela atrevida, mas no fim a ficha cai e nos tocamos o quão burros podemos ser.
O filme como já mencionei vem sendo bolado há algum tempo por Anna Muylaert, e está sendo um sucesso estrondoso principalmente fora do Brasil, o que é até interessante já que o filme trás uma realidade bem brasileira. Ana retrata as empregadas de forma diferente, principalmente do que é mostrado na maioria das novelas, o foco não é do patrão para o empregado, aqui o foco é o olhar da cozinha. E isso é bem colocado no uso da câmera parada na cozinha, mostrando o entra e sai de Val.
Alguns outros elementos do filme são usados para passar a mensagem do filme. Sejam eles mais sutis ou mesmo os mais claros, como por exemplo o jogo de xícara que Val presenteia sua patroa nele temos o preto no branco, a planta da casa dos patrões, mostrando toda a enorme casa e o quartinho da empregada, afastado de tudo (Alguém viu uma senzala ai?). E o próprio quarto de Val, a janela que dá a um corredor com um gradil, o que faz do quarto uma "prisão".


"É descasado, preto no branco e branco no preto". 


O elenco é muito bom regina Casé consegue mesclar os momentos de humor com drama trazendo ao filme um ar mais leve, e sim ela é uma excelente atriz e se você só consegue ver ela como apresentadora do ixxxqueenta pode ficar tranquilo pois em momento algum isso vai te incomodar no filme ela é a Val. Nem é preciso falar que Camila Márdila também é excelente e promete muito ainda. Toda a família também é competente cumprindo bem o seu papel no filme.
A indicação para representar o Brasil no Oscar é mais que merecida, já que o filme já conquistou à Europa e é vencido como um filme de verão, e o filme conseguiu desenvolver bem todas as nuances que envolvem as questões de classes, de preconceito e de desigualdade no Brasil. o filme merece ser visto principalmente pelos Brasileiros e se prepare pra aguentar uns tapas na cara.


"Eu não me acho melhor não, só não me acho pior."

O cartaz do filme pelo mundo:



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